A Tesla busca reacender o interesse em seu prometido supercarro com uma nova patente. No entanto, em vez da ficção científica e propulsores de foguete, o conceito aposta em uma solução de engenharia que, embora ambiciosa, resgata uma tecnologia testada e banida do automobilismo há décadas.

Uma aposta em ideias do passado

A nova patente descreve um sistema que utiliza ventiladores e saias laterais móveis para pressionar o futuro Roadster contra o asfalto. O objetivo é criar uma zona de baixa pressão sob o carro, gerando um “efeito-solo” que aumenta drasticamente a aderência em altas velocidades. A ideia, que soa inovadora, na verdade, tem suas raízes no automobilismo dos anos 1970.

Conforme reportado pelo site InsideEVs, o princípio básico foi popularizado pelos chamados “fan cars” (carros-ventilador). Modelos revolucionários como o Brabham BT46B e o Chaparral 2J usavam ventiladores para gerar um downforce (força descendente) sem precedentes, mas foram rapidamente proibidos por mudanças nos regulamentos. Agora, a Tesla revive essa mesma tecnologia, mas com o desafio de aplicá-la em um veículo de rua.

De foguetes a ventiladores

Quem se lembra da apresentação original do Tesla Roadster recorda de promessas espetaculares: uma aceleração comparável à de um foguete, indo de zero a 100 km/h em 1,1 segundos, e um pacote opcional da SpaceX com propulsores de gás frio. Era um carro que parecia pertencer mais à ficção científica do que à realidade.

Na patente atual, no entanto, não há qualquer menção a esse pacote SpaceX. Como explica o site Electrek, a Tesla parece ter abandonado os propulsores e focado em uma tecnologia mais “pé no chão”, que tem mais a ver com “aderência” do que com “propulsão” externa.

Tecnicamente intrigante, comercialmente duvidoso

No papel, a ideia do “fan car” parece inteligente. Mas sua aplicação prática gera dúvidas. Segundo analistas da Automotive Addicts, é pouco provável que essa inovação atraia o interesse de compradores de supercarros, que valorizam a experiência de condução tradicional, incluindo o som do motor e a resposta do veículo. Além disso, questiona-se se o mercado de carros elétricos realmente precisa de um veículo que acelera em praticamente um segundo.

A aposta surge em um momento delicado para a Tesla. Na Europa, suas vendas caíram significativamente, em grande parte devido à concorrência de veículos chineses mais acessíveis, conforme relatado pela Reuters.

Uma queda “sem precedentes” na lealdade do cliente

Um indicador crucial na indústria automobilística é a fidelidade do cliente, pois, segundo o analista Tom Libby da S&P, é muito mais caro conquistar novos clientes do que manter os existentes. A Tesla, que por anos foi líder absoluta em lealdade de marca nos EUA, sofreu uma queda catastrófica nesse quesito.

De acordo com dados da empresa de pesquisa S&P Global Mobility, citados pela agência de notícias Reuters, a fidelidade à Tesla atingiu seu pico em junho de 2024, quando 73% dos lares com um Tesla que buscavam um carro novo optaram por outro veículo da marca. No entanto, essa lealdade começou a diminuir em julho de 2024. Em março de 2025, a taxa atingiu seu ponto mais baixo, com 49,9%, caindo ligeiramente abaixo da média do setor.

Até maio de 2025, a taxa de lealdade se recuperou para 57,4%, colocando a Tesla novamente acima da média da indústria, mas ainda atrás de concorrentes como Chevrolet e Ford. O analista da S&P, Tom Libby, classificou como “sem precedentes” a rapidez com que a líder incontestável em fidelidade caiu para o nível médio do setor. “Eu nunca vi uma queda tão rápida em tão pouco tempo”, afirmou ele à Reuters.

O fator Musk e o impacto político

Além de uma linha de modelos envelhecida, a principal causa para a perda de lealdade parece ser o engajamento político do CEO da Tesla, Elon Musk. A marca possui uma conexão extremamente forte com seu líder. O início da queda na fidelidade coincide com o momento em que Musk passou a apoiar abertamente o candidato presidencial republicano Donald Trump.

Segundo a análise de diversos especialistas consultados pela Reuters, o apoio de Musk a Trump, cujas políticas são vistas por muitos como contrárias à agenda climática, provavelmente alienou a base de clientes ambientalmente conscientes que formaram o núcleo inicial de compradores da Tesla. O fato de Musk ter se desentendido posteriormente com Trump, chamando sua proposta de lei fiscal de “abominação”, parece ter feito pouco para reparar o dano causado.